O deputado federal Zé Silva (Solidariedade/MG), presidente da Frente Parlamentar da Mineração Sustentável (FPMin), conversou, nesta terça-feira (28), durante o Webinar Transição Energética e Minerais Críticos, com especialistas sobre as expectativas em relação ao Brasil na corrida pelos minerais fundamentais para a transição energética e ações e projetos nacionais com objetivo de descarbonizar o país.
A diretora do Centro de Tecnologia Mineral (CETEM), Silvia França, destacou o tanto que o Brasil já produz de energias limpas, como a energia hídrica, que corresponde, segundo a diretora, por 2/3 da energia produzida no país, sem contar a eólica e solar. Também ressaltou as reservas de minerais estratégicos, os programas desenvolvidos por meio de parcerias com o governo e empresas privadas, e defendeu a necessidade de mais investimentos em ciência e tecnologia para melhorar o aproveitamento dos minerais.
“É necessário que o Brasil faça investimentos vultosos em pesquisa e desenvolvimento tecnológico para os minerais estratégicos. Nesse ponto, defendo que a parte da CFEM (Compensação Financeira pela Exploração Mineral) a que temos direito seja aplicada nisso. O CETEM está aqui para ser indutor de tecnologia e inovação para o setor mineral”, orientou Silvia.
De acordo Paulo Braga, coordenador de Processamento e Tecnologias Minerais do CETEM, “a demanda por minerais críticos vai crescer assustadoramente” nos próximos anos. O Brasil possui reservas importantes de lítio, que é um elemento chave da transição energética, pela sua utilização nas baterias recarregáveis, assim como nióbio, níquel, cobalto, entre outros minerais. E, segundo Paulo, já é preciso pensar em ações de sustentabilidade para essas baterias.
“Precisamos de um programa de implantação para reciclagem das baterias de íon- lítio, pois já temos no país um número significativo de veículos elétricos emplacados”, alertou.
Especialista em terras raras, o pesquisador do CETEM Ysrael Vera explica que as cadeias de elementos que são chamados de terras raras são importantes na produção de dispositivos tecnológicos importantes para a transição energética, como das turbinas eólicas e dos motores dos veículos elétricos. Vera afirma que o Brasil tem grandes reservas, mas sem aproveitamento.
“Ao lado da Rússia, temos a 3ª maior reserva global conhecida de terras raras, mas não temos produção aqui. O desafio de se produzir terras raras no Brasil é tecnológico, pois precisamos tornar a produção mais econômica para ser competitiva no mercado global. Para isso, investimentos em P&DI e articulação público-privado são fundamentais”, avaliou Ysrael.
O deputado Zé Silva pontuou a articulação da FPMin junto ao governo para que parte dos recursos da CFEM, assim como previstos em lei, sejam destinados tanto para pesquisa e desenvolvimento tecnológico junto ao CETEM, quanto para a estruturação da Agência Nacional de Mineração (ANM).
Lítio Verde Triplo Zero
A CEO e co-presidente da Sigma Lithium, Ana Cabral Gardner, falou da experiência da produzir o Lítio Verde Triplo Zero, um produto com carbono zero, que não utiliza ácidos na separação do lítio, a energia utilizada no processo é 100% limpa, a água é 100% recirculada e os rejeitos são empilhados a seco.
“A gente inseriu o Brasil com o pé na porta em um mercado que tinha um oligopólio global. A gente quebrou esse oligopólio. Como? Com sustentabilidade. Não precisa nem de subsídio, só desburocratizar que a gente consegue fazer o produto mais competitivo do mundo aqui.”.
Durante o webinar, Ana convidou o CETEM para uma parceria e falou de um próximo projeto da Sigma: “Nós vamos resolver a questão dos rejeitos e precisamos pesquisar o uso desses insumos. Eles vão para indústria de concreto (concrete building), como eles fazem na China, e para indústria de produtos de limpeza”, adiantou.
Vale do Jequitinhonha
Fernando Passalio, secretário de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais, explicou que o Vale do Jequitinhonha é uma região com um dos menores IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do estado e do Brasil e o projeto do Vale do Lítio chegou como uma esperança para a população local.
O secretário lembrou que a exportação de lítio do Brasil era quase proibida, devido a quantidade de limitações, que só foram derrubadas pelo governo federal anterior. Isso, segundo ele, abriu as portas para os investidores internacionais da cadeia produtora do lítio, assim como a Sigma, e todas elas com alto padrão ESG (com responsabilidade ambiental, social e de governança).
“Em relação a mineração sustentável, quando se fala de lítio, nós estamos muito próximos do ideal. Claro que o Estado continua atuando na fiscalização, nos licenciamentos e onde mais lhe couber para que o Vale do Lítio seja o vale das oportunidades e possa ter o crescimento esperado”, destacou.
Sustentabilidade social
A Sigma hoje paga R$ 150 milhões em CFEM sobre o produto industrializado (IPI) e gera 14 mil empregos diretos e indiretos, mas Ana conta que empresa deu início a projetos e ações sociais a fim de apoiar a comunidade local e trazer a população do Vale do Jequitinhonha para o seu lado antes de começar a produzir o lítio.
Foram criadas linhas de microcrédito para mulheres empreendedoras e linhas de irrigação para promover a agricultura familiar, gerando 20 mil postos de trabalho diretos e indiretos. Além disso, continua em atividade os programas Fome Zero, iniciado durante a pandemia, que serve 3 mil refeições por mês; e Água para Todos, atendendo 18 mil pessoas por mês.
“Como nós agregamos muito valor ao nosso produto, tínhamos um colchão de margem para sustentabilidade social. Você entrar em um mercado com o jogo estabelecido, com esse apoio da comunidade e vendendo para mercados como EUA, Europa e China faz toda diferença”, esclareceu.
Assista o webinar na íntegra no canal do YouTube da Frente